Chambriard minimiza polêmica sobre dividendos ao CNN Money e critica lentidão ambiental em sua primeira entrevista exclusiva

Petrobras não empilha dinheiro, diz Chambriard ao CNN Money sobre pagar dividendo extraordinário

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“Se o caixa for suficiente, a gente não empilha dinheiro”. É assim que Magda Chambriard, presidente da Petrobras, responde à principal dúvida de analistas, gestores e investidores da maior empresa brasileira: se a estatal petroleira pagará ou não dividendos extraordinários.

Enquanto o icônico edifício-sede da Petrobras na avenida Chile, no centro do Rio, é reformado, Chambriard despacha a poucos metros dali, no 18º andar de outro prédio da estatal. Lá, a engenheira carioca de 66 anos recebeu o CNN Money para a primeira entrevista exclusiva no cargo a uma emissora de TV.

Na conversa de uma hora, demonstrou gratidão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil) por nomeá-la ao cargo que ocupa há quase cinco meses.

O discurso de Chambriard sobre a polêmica exploração da Foz do Amazonas está alinhadíssimo ao Palácio do Planalto. Ela defende a ampliação da produção de petróleo no médio prazo e, para isso, mira a Margem Equatorial. Ato contínuo, emenda críticas às autoridades ambientais.

“Não podemos tudo e eles também não podem tudo”.

Sobre a transição energética, a presidente fala, orgulhosa, que a Petrobras desenvolveu um novo tipo de combustível, o diesel R. Então, interrompe a entrevista, pega uma pequena amostra e fez questão de exibir para as câmeras.

“Eu queria mostrar para vocês, aproveitar que estou aqui”, disse. “É a garota propaganda”, brincaram os assessores.

Também comemora que a empresa tem batido recordes no uso recorde da capacidade instalada das refinarias. “Não pode ter nada pior do que ter uma instalação que não funciona a plena carga”.

Diz ainda que, com novos investimentos nas refinarias, o Brasil deve chegar à “quase autossuficiência” em diesel.

Com fala suave e voz baixa, Chambriard tem uma gestão discreta. Na presidência, a agenda foi direcionada especialmente a eventos técnicos e os discursos foram escassos.

O contato com a imprensa se limitou a parcos momentos com veículos especializada em óleo e gás e as entrevistas coletivas podem ser contadas nos dedos.

A seguir a entrevista na íntegra:

Queria começar a nossa conversa falando sobre um assunto que foi muito polêmico na chegada da senhora, ou meses antes da chegada, que é a política de preços da companhia. Muito se discutiu sobre esse assunto no governo passado, no atual governo. Então, pergunto para a senhora se está feliz com a atual política de preços da companhia.

Antes de mais nada, Naka, deixa eu agradecer por ser a primeira entrevistada do novo programa de vocês, é um prazer muito grande ter esse privilégio.

Agora, sobre a política de preços. No início do governo Lula, a promessa foi de abrasileirar os preços, nós tínhamos uma situação onde os combustíveis produzidos no Brasil eram onerados com preço de transporte inexistente, com preço de tributo inexistente, riscos, etc.

Então, tudo isso foi ajustado e passamos a ter um preço abrasileirado, que consideramos um preço justo para a sociedade. Quando você olhar para 1º de janeiro de 2023 até hoje, vocês vão ver que todos os combustíveis vendidos pela Petrobras têm preços menores do que o preço vigente no primeiro de 23.

Mesmo assim, nós estamos extremamente satisfeitos com a política de preços, que garante para a sociedade uma estabilidade desses preços. A gente evita transportar para a sociedade uma volatilidade indesejada, e ao mesmo tempo nós nos remuneramos por esses combustíveis de forma bastante satisfatória.

Em termos de política de preços, estamos bastante satisfeitos.

O mercado, ou os analistas, no começo da gestão da senhora, ou alguns meses antes, questionavam como essa conta era feita. A senhora acha que essa dúvida foi desfeita?

Essa dúvida tem que persistir, porque ninguém conta para o concorrente como faz seu preço. Então, no mercado de combustíveis, a hora que descobrirem como eu faço meu preço, é a hora em que eu tenho que ser mandada embora. Isso é uma prerrogativa da companhia.

A gente não pergunta para nenhuma outra empresa como ela formula seus preços e como aborda o mercado. Então, com a Petrobras é a mesma coisa. A diferença é que a Petrobras enquanto estatal desperta mais curiosidade, mas nesse ponto a gente mantém o sigilo.

Passando das polêmicas antigas para as novas. Hoje a Petrobras está no meio de uma grande polêmica sobre a exploração da Margem Equatorial. Ao longo dos últimos meses, a senhora deixou muito claro o esforço que a senhora, à frente da companhia, tem de tentar sensibilizar, explicar e esclarecer os pontos às autoridades ambientais sobre a exploração daquela região. Em que pé está este esforço?

Primeiro a gente precisa explicar porque nós vamos atrás desse tipo de recurso. A Petrobras, enquanto empresa estatal, se especializou na avaliação do potencial petrolífero brasileiro.

Nós tivemos muito sucesso ao longo do tempo, começamos em terra, fomos para águas rasas, adentramos em águas profundas e chegamos no pré-sal, mas lidamos com o potencial de um recurso que não é renovável.

No caso do pré-sal, é incrível e gigantesco, mas não é um potencial infinito, de modo que enxergamos que o pico de produção do pré- sal estará lá em torno de 2030 e 32. Esse pré-sal hoje nos garante um petróleo que é o primeiro produto de exportação do Brasil, então isso para a balança comercial do Brasil é ótimo, e para a sociedade brasileira garante bem estar, receita e riqueza.

O que a gente acha? Que não podemos abrir mão dessa riqueza, dessa receita e abrir mão desse potencial. Quando a gente chegar no pico e começar a declinar o potencial do pré- sal, precisamos de algum potencial que reponha essas reservas.

Sobre a Margem Equatorial, o que nós estamos falando é de garantir ao Brasil o benefício da exploração e produção do petróleo na forma como no mínimo ela é hoje, ou seja, garantindo um padrão de exportação que gera riqueza, emprego e renda para o povo brasileiro.

Nós temos números interessantes: para cada dólar que a gente investe em petróleo a gente gera, além de emprego e renda para a população, US$ 2,50 em tributos. Então você imagina que a gente tenha aí um investimento gigantesco no sudeste brasileiro, principalmente no estado do Rio de Janeiro, então a gente gostaria que os estados do norte e nordeste fossem igualmente contemplados.

O que nós estamos falando aqui é uma descentralização do investimento exploratório em benefício de regiões mais carentes do Brasil.

A senhora acha que essa argumentação pode fazer com que haja uma facilitação no convencimento das autoridades ambientais, já que, junto com a Petrobras, haveria o apoio também das autoridades regionais, dos governadores e prefeitos daquela região?

Eu acho que cada um tem que cumprir o seu papel, e o nosso papel é mostrar o benefício para a sociedade, de buscar riqueza, de buscar desenvolvimento, de mostrar uma indústria pujante.

O pessoal do meio ambiente, do Ibama e dos órgãos estaduais tem que mostrar para a gente em que limite podemos fazer. A gente não pode tudo, mas eles também não podem tudo. A sociedade se faz do equilíbrio dessas forças.

Nesse momento, o que nós estamos fazendo é isso, nós estamos discutindo em que termos, sei que vem de longa data, mas da nossa parte nós entendemos que as respostas já estão muito bem dadas.

Mas se os órgãos ambientais entenderem que ainda falta alguma coisa, nós estaremos aqui para responder e elucidar todas as questões e todos os pontos de dúvida.

Recentemente saiu na imprensa que um parecer técnico do Ibama teria apresentado um posicionamento contrário a essa exploração. Inclusive, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, teria citado carência de detalhes nas informações prestadas pela Petrobras. Faltaram detalhes?

Isso é interessante ressaltar, porque enquanto os técnicos acharam que a nossa resposta não era completa, e deveria ser recusada, o presidente Agostinho, de uma forma muito sensata disse o seguinte: “Não, se a gente ainda tem dúvidas, vamos exacerbar nas questões e vamos exacerbar nos detalhes que nos consideramos necessários para emitir a licença”.

Então, acho que o presidente Agostinho está certo, nós estamos aqui para responder o questionamento dele. A gente só espera que não demore tanto. Nisso, já se vão 10 anos.

Antes da Petrobras a senhora estava na Alerj [Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro], e em um artigo que li da senhora sobre como o estado brasileiro poderia discutir a exploração em outras regiões do país, a senhora mencionava o CNPE, o Conselho Nacional de Política Energética. A discussão no CNPE tem ajudado nesse esforço?

Como é que funciona quando a gente coloca uma área em licitação? A ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil] – que é o órgão incumbido de selecionar as áreas para pôr em licitação – apresenta o estudo ao Conselho Nacional de Política Energética. O Conselho Nacional instrui a ANP a estudar essas áreas de forma mais profunda.

Dentre os estudos, aparece um estudo ANP e Ibama, quando é no mar; e ANP e órgãos ambientais terrestres quando é em terra.

Então, toda rodada é precedida de uma manifestação conjunta ANP/Ibama que garante que essa área pode ser licitada, e diz que riscos têm que ser observados para que essa área seja licitada mitigando esses mesmos riscos.

Então, a Margem Equatorial foi licitada em 2013, no âmbito da 11ª rodada, e conta com manifestação conjunta ANP/Ibama. Nesse momento em que se tem esses estudos, essas áreas voltam para o CNPE, que então aprova a licitação dessas áreas.

Quem participa do Conselho? É presidido pelo ministro de Minas e Energia, mas tem participação da Casa Civil, do Planejamento, do Meio Ambiente, representantes da sociedade civil, enfim, tem muita gente ali. Essa autorização sai do CNPE com a chancela dos diversos ministérios e assinatura do presidente da República.

Quando a gente está falando da Margem Equatorial, nós estamos falando de blocos que foram adquiridos com o aval do Conselho Nacional de Política Energética, do qual faz parte o Ministério do Meio Ambiente.

Ou seja, o aval, em tese, já existiria?

O aval prévio já existiria. O que se discute agora é em que termos se daria essa licença.

A Petrobras tem divulgado com muita frequência, mês após mês, o uso recorde de suas instalações de refino. Como a Petrobras tem conseguido chegar a isso? E essa utilização recorde de capacidade de refino pode indicar outra coisa, por exemplo, a necessidade de construção de uma nova refinaria?

A primeira coisa é que nos orgulhamos muito da plena utilização das nossas instalações. Acho que numa indústria não pode ter nada pior do que uma instalação que não funcione a plena carga. Então, maximizar o retorno das nossas instalações é o que nós pretendemos.

Então, quando o nosso grupo de refino diz para nós que o FUT (fator de uso das refinarias) está a 96%, nós ficamos muito alegres porque estamos maximizando o retorno dessas instalações.

E o que estamos fazendo além disso? Estamos concluindo o primeiro trem da refinaria de Pernambuco, que chamamos de Abreu e Lima, e com isso vamos aumentar a produção de combustíveis na ordem de 25 mil barris.

A seguir, nós vamos começar o segundo trem, uma outra planta anexa à primeira, que já está no nosso planejamento estratégico há algum tempo. Nós vamos ampliar a capacidade da nossa refinaria em Duque de Caxias.

Já com as obras do complexo de energia de Boaventura, a médio prazo estamos falando em aumentar em 50% a capacidade do nosso complexo que produz hoje da ordem de 240 mil barris. Então, o complexo de Boaventura vai ter a chegada da rota 3, trazendo gás para terra lá do pré-sal.

Esse número está em torno de 18 milhões de metros cúbicos por dia. Além disso, estão previstas duas usinas termelétricas, e depois lubrificantes. Esse acréscimo de produção nesse conjunto de instalações aumentou em 50% o combustível produzido no estado do Rio de Janeiro a médio prazo.

Diante desses investimentos, quanto a capacidade de refino da Petrobras aumenta como um todo? E isso poderia reduzir a nossa dependência da importação de diesel?

Com certeza. Se a gente falar em Abreu e Lima e aqui no complexo de Boaventura, nós estamos falando em mais 200 mil barris no total, talvez 250 (mil).

Isso é bastante coisa, mas não vamos parar por aí. Nós estamos também ajustando capacidade e planejando pequenos investimentos nas refinarias como um todo para aumentar um pouco a produção de todas elas.

Então, vamos aumentar sim (a produção) e reduzir a dependência de derivados, principalmente a dependência de diesel, que é o nosso produto mais caro.

Autossuficiência não seria uma possibilidade?

A gente vai chegar perto.

Mas eu queria mostrar para vocês, aproveitar que eu estou aqui, um produto nosso, que é o diesel coprocessado com óleo vegetal, que tem 5% de óleo vegetal.

Magda Chambriard apresenta ao CNN Brasil Money uma amostra do diesel coprocessado com 5% de óleo vegetal
Magda Chambriard apresenta ao CNN Brasil Money uma amostra do diesel coprocessado com 5% de óleo vegetal • Reprodução: CNN Brasil

Nós temos 5 refinarias fazendo isso. 1% da nossa produção total de diesel é desse coprocessado, mas nós vamos aumentar isso, e esses 5% vão virar 10%, e mais adiante vamos investir mais em refino para fazer um diesel coprocessado que possa passar desses 10%.

Isso aqui é um produto tão perfeito, um diesel muito mais verde e um produto tão perfeito que a gente só consegue notar a diferença para o diesel original com um teste de Carbono 14. Qualquer outro teste não identifica a diferença tamanha é a perfeição desse diesel.

Ou seja, estamos indo na direção da transição energética, de produtos cada vez mais verdes, com menos emissões e patente Petrobras.

A senhora acha que esse diesel-R e essas características técnicas que parecem muito mais avançadas do que tínhamos até agora vão conseguir apagar a imagem de muita reclamação sobre esse biodiesel atual? Será que essa tecnologia vai apagar essa imagem ruim que temos hoje?

Isso aqui é diesel. É um desafio para qualquer motor, cientista ou especialista mostrar que isso aqui não funciona tal qual o diesel. Se o diesel é bom, esse aqui é melhor. Ele é mais verde.

E sobre essa reclamação do setor de transportes, de que o biodiesel geraria problemas mecânicos?

Essa é uma parte muito controversa. O diesel é higroscópico, então o mau uso do diesel com o biodiesel pode gerar algum problema, mas o problema é fruto do mau uso. Se eu tiver um diesel sujo, por exemplo, ele também gera mau uso.

Então, não gosto de dizer que é uma reclamação fruto de um produto ruim, qualquer produto tem que ser usado e dentro dos limites para o qual foi feito, e com o biodiesel não é diferente. Mas esse é um produto diferenciado.

Sobre gás, a gente tem uma situação hoje em que, no Brasil, a Petrobras reinjeta gás e não explora toda essa potencialidade. Apesar disso, os ultimos números da Petrobras mostram que as vendas de gás têm crescido na casa de dois dígitos. Como aumentar o potencial econômico desse produto?

Uma das coisas que nós estamos fazendo é abordando o mercado e como expandimos esse mercado de gás.

O gás tem uma máxima, se a gente não desenvolve mercado de gás, acaba não tendo mercado e não pode investir, mas sem investir também não podemos abordar o mercado.

Então, há um ciclo vicioso que a gente tem que romper, e é nisso que estamos trabalhando agora. Uma das questões que está por trás disso é o uso do gás para fertilizantes e para petroquímica. O complexo de Boaventura é uma iniciativa nessa direção, e os fertilizantes são outra iniciativa nessa direção.

Só para você ter uma ideia, quando a gente fala em fertilizantes, se for fazer a conta de cada fertilizante nitrogenado, que é uma parte do que o Brasil consome, nós vamos precisar de cerca de 30 milhões de metros cúbicos por dia de gás.

Quando a gente fala de fertilizante, a gente fala de alargar o mercado de gás. Quando a gente fala em petroquímica, a gente também fala em alargar o nosso mercado de gás. Quando nós estamos falando em abordar a indústria química, estamos falando em alargar o mercado de gás.

Então, essa coisa tem que ser feita com muita tranquilidade e com muita serenidade para entender que são duas pontas que a gente tem que amarrar direitinho. Trazer o gás para a costa, mas trazer o gás para a costa no momento em que a gente consegue colocar ele no mercado. Se não, (o gás) acaba sendo queimado e poluindo, e não queremos isso.

Então estamos indo nessa direção, e vocês têm visto no nosso direcionamento estratégico 24-28 que colocamos fertilizante, voltamos a falar em petroquímica, e isso tem haver com o mercado de gás que a gente precisa desenvolver para reinjetar menos.

Sobre fertilizantes, a Petrobras anunciou recentemente um acordo com a Iara, uma multinacional do segmento. O que dá para esperar disso? A criação de uma nova companhia envolvendo as duas, por exemplo?

Por enquanto, nós estamos estudando parcerias. A gente não tem uma determinação de que nós vamos fazer esse projeto ou aquele.

O que temos certo é que aprovamos o reaproveitamento da ANSA, a fábrica de fertilizantes nitrogenados lá de Araucária (PR), acabamos de aprovar no conselho e na diretoria essa semana a retomada e conclusão da UFN-3 em Mato Grosso do Sul.

Nossos próximos passos agora são ver o que fazer com as fábricas de fertilizante da Bahia e de Sergipe. Nesse ponto, estamos seguindo o nosso planejamento estratégico de 24-28, indo na direção de dar essa resposta para a sociedade que é: “Afinal de contas, vocês vão produzir mais gás e trazer esse gás para a terra, ou vocês vão produzir mais gás e reinjetar?”

Trazendo mais gás para a terra e participando são mais royalties, mais participações especiais, mais emprego, mais renda e isso nos agrada.

A senhora falou em quase autossuficiência no diesel. Será que a gente pode pensar em algum momento nas próximas décadas em autossuficiência nos fertilizantes? Seria possível?

Por enquanto, o que estamos pensando é responder com a maior parte ou quase totalidade dos nitrogenados, essa é uma parte, menos que 50%, essa consideramos nesse momento. O próximo passo não olhamos ainda. Uma coisa de cada vez.

Presidente, agora outro assunto que tem sido muito controverso, que são os dividendos. A gente passou por anos aqui na Petrobras com pagamentos de dividendos extraordinários em volume bastante expressivo. Esta política mudou e hoje, quando se conversa com os analistas que acompanham a companhia, há pouca certeza sobre o tema. O que pensa sobre os dividendos extraordinários?

O que eu penso é o seguinte, está no nosso estatuto que nós temos que distribuir 45%. Isso não pode ter dúvida.

Os extraordinários, por enquanto, não temos maiores expectativas sobre eles. O que precisamos é aprovar um plano 25-29, se o caixa for suficiente a gente não empilha dinheiro. Não há mérito nenhum em empilhar dinheiro.

O que for lucro, o que for fluxo de caixa livre, o que estiver dentro dos 45% e o que a gente não precisar reter para garantir investimentos serão distribuídos.

Ainda sobre dividendos, presidente. Os analistas reclamam que este assunto é imprevisível, que tipo de resposta daria para dar para os analistas que questionam que “não dá para saber o que a Petrobras vai anunciar sobre isso?” 

O que eu posso dizer para eles é: estamos cumprindo o determinado no nosso estatuto. No momento que a gente tiver lucro, será distribuído conforme a regra vigente no estatuto.

O que tem em relação à Petrobras é muita ansiedade. A Petrobras é a maior empresa do Brasil, é uma empresa que mora no coração de todos nós. Ela tem que morar no nosso coração, mas a gente fica muito feliz de saber que ela mora no coração de toda a população brasileira. A gente vê essa ansiedade com bons olhos, porque para nós essa ansiedade quer dizer amor. E a gente compartilha desse amor.

Para terminar essa questão dos dividendos extraordinários, pesa muito na tomada dessa decisão a necessidade de caixa do principal acionista da companhia, o governo federal?

Pesa na decisão os interesses dos nossos acionistas como um todo, sejam eles governamentais ou privados.

Ou seja, se o ministro Fernando Haddad ligar para a senhora e falar “eu preciso muito de dividendos aqui para fechar o caixa”, não vai sensibilizar a senhora.

Está no estatuto, eu tenho que distribuir 45%. E o ministro Haddad, verdade seja dita, nunca me ligou para isso, não.

Presidente, queria falar sobre negócios internacionais. A Petrobras já teve uma presença muito maior no exterior. Quais são os planos da senhora fora do Brasil? A Petrobras pode fincar pés em outros mercados?

Com certeza. Nós estamos falando de uma necessidade de reposição de reservas, que está no nosso plano estratégico e é público. Então, se olhar para o plano estratégico 24-28, você vai ver lá uma obrigação de reposição de reservas.

Onde é que nós vamos buscar essas reservas? Prioritariamente no Brasil, e dentro da necessidade onde quer que elas estejam.

Onde a gente já está hoje? Em uma área exploratória em São Tomé e Príncipe, na África, e hoje nós já temos um pedacinho de uma área exploratória na África do Sul.

A Petrobras ganhou espaço entendendo e sendo especialista na geologia do Brasil. A Margem Atlântica do Brasil é muito estudada há décadas. E muito parecida com a Margem Atlântica do Brasil, é a margem africana. Ali em princípio é nosso alvo porque faz parte do nosso DNA estudar aquela geologia.

E há prospecção de que áreas as nações ali daquela regiões estariam propensas a explorar e a Petrobras está de olho?

Aí temos que competir com as grandes petroleiras, mas sim, temos interesse em olhar oportunidades, principalmente na Margem Atlântica da África.

A gente falou em importação de combustíveis, agora queria perguntar do lado oposto. Como é que está sendo a Petrobras exportadora, quem são os grandes compradores dos produtos Petrobras no exterior e como tem sido a prospecção de mercados lá fora?

O mercado de petróleo cru é global. Nossas vendas são principalmente para Ásia-Pacífico, embora tenhamos outras vendas, mas principalmente para Ásia-Pacífico.

Agora, o nosso grande orgulho é que nós produzimos o produto que hoje é o primeiro produto de exportação brasileira.

Quando a gente está falando disso, estamos falando de um benefício para a balança comercial brasileira que é extremamente relevante, e que significa estabilidade de dívida para todos nós. Estamos fazendo um país mais rico.

E não daria para agregar valor para essa exportação?

O Brasil se tornou um case de sucesso na área do petróleo.

Ao longo de décadas, isso foi resultado de muito trabalho, dedicação e competência, mas hoje nós somos uma das dez maiores economias do mundo. Um dos dez países mais exportadores de petróleo do mundo, um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo. E também, um dos maiores mercados consumidores de produtos de petróleo do mundo.

Então, imagina que fornecer para esse mercado, que em última análise é de todos nós brasileiros, é um privilégio. E é um privilégio que vem associado com uma obrigação, a de fazer produtos cada vez mais verdes, de olho nessa transição energética que toda a população deseja.

Nós estamos atendendo, e agora nosso petróleo felizmente ainda está sobrando para além do nosso consumo, e dá para exportar, sim, em benefício do Brasil e da nossa população.

Em termos de produtos mais verdes, nós estamos fazendo, como acabei de mostrar aqui para vocês.

Magda Chambriard apresenta ao CNN Brasil Money uma amostra do diesel coprocessado com 5% de óleo vegetal
Magda Chambriard apresenta ao CNN Brasil Money uma amostra do diesel coprocessado com 5% de óleo vegetal • Reprodução: CNN Brasil

Completamente transparente, bonitinho e verde. Esse aqui por enquanto é 5% verde, mas já já vai ter mais verde para além desses 5%.

Esse verde hoje é de que origem?

Principalmente soja.

Presidente, a senhora já está há alguns meses aqui no cargo e queria saber o que mudou na sua vida após chegar à cadeira da presidência da maior empresa brasileira?

A primeira coisa que mudou foi a disposição e a honra de ter chegado nessa cadeira. Quando eu cheguei nessa empresa, tinha 22 anos.

Uma mocinha que entra numa empresa por concurso público aos 22 anos numa indústria extremamente masculina e chega à presidência desta empresa, e só posso dizer que o que mudou é um sentimento de honra muito grande, e um agradecimento muito grande por toda essa confiança que o governo tem depositado em mim.

E como está a relação da senhora com o presidente Lula e o ministro (de Minas e Energia) Alexandre Silveira?

Da parte deles, do presidente Lula, da parte do ministro Alexandre Silveira, da parte do ministro (da Casa Civil), Rui Costa, eu só tenho colhido amizade e apoio.

Voltando à vida pessoal, o que mudou de fato? A senhora viaja muito como uma grande executiva de uma grande empresa multinacional. Como é estar aqui no Rio, por exemplo?

Eu acredito que cabeça vazia é a oficina do diabo. Então sempre procurei deixar minha cabeça cheia e trabalhar. Ao longo do tempo sempre trabalhei muito.

O que mudou é que do home office ou na consultoria, que era o que eu estava fazendo quando sai da ANP, é muito menos do que o muito daqui, dessa empresa que é grandiosa, que todo dia tem novidade. Se o dia tivesse 55 horas também não daria tempo.

E o que gosta de fazer nas horas vagas?

Um monte de coisa. Eu ando, faço ginástica todos os dias praticamente, eu gosto de tomar vinho, gosto de bons restaurantes e gosto de sair com meus amigos. Somos patrocinadores master do Theatro Municipal, eu adoro ópera, estou sempre lá. Enfim, essas coisas que todo mundo faz.

A senhora também me contou que tem dois pets, qual a sua relação com eles?

São dois cães que originalmente seriam das minhas filhas gêmeas, mas acabei herdando os cachorros delas. Tenho um lhasa apso de oito quilos e um staff bull de 20 quilos, que estão sempre atrás de mim.

E quando viaja por vários dias e volta para a casa, qual que é a reação?

A primeira coisa é que eles estranharam muito quando vim para cá, porque com home office eu ficava bastante tempo em casa, convivia com eles bastante tempo e agora estão me vendo menos. Quando viajo então me veem menos ainda, quando eu volto eles se vingam de mim.

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