Análise: Zelensky mostra incômodo quanto à iniciativa de paz proposta por Brasil e China

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, expressou forte descontentamento com a iniciativa de paz proposta por Brasil e China durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU, nesta quarta-feira (25).

O líder ucraniano questionou os interesses geopolíticos dos dois países, afirmando que eles “não vão aumentar seu poder na geopolítica às custas da Ucrânia”.

Segundo a analista de Internacional Fernanda Magnotta, o discurso contundente de Zelensky revela um profundo desconforto em relação à proposta conjunta de Brasil e China.

“Não é comum que líderes sejam tão enfáticos em acusar outros países publicamente em eventos de alto nível”, observa Magnotta, ressaltando a excepcionalidade da situação.

Crise de confiança e legitimidade

A especialista aponta dois fatores principais para explicar a reação negativa de Zelensky. O primeiro é uma crise de confiança em relação a Brasil e China como potenciais mediadores do conflito.

“Quando buscamos um mediador de conflito, esses atores precisam gozar de credibilidade e legitimidade entre os diferentes envolvidos”, explica Magnotta.

No caso do Brasil, a posição é vista como confusa pelos ucranianos, especialmente devido aos acenos feitos à Rússia e à participação no BRICS.

Já a China é considerada o principal parceiro estratégico, econômico e até militar da Rússia, o que compromete sua neutralidade aos olhos de Kiev.

Timing inadequado da proposta

O segundo fator destacado por Magnotta é o timing da proposta de paz. “Estamos falando de uma guerra que, neste momento, foi interpretada pelo lado ucraniano como sendo uma guerra que só vai ser vencida se eles intensificarem a agressão contra o território russo”, analisa.

A especialista ressalta que a Ucrânia, em conjunto com Washington, entende que precisa atacar o território russo para ter o que barganhar no futuro.

Assim, a proposta de mediação estaria desconectada do momento atual da estratégia ucraniana no conflito.

O episódio evidencia os desafios diplomáticos enfrentados por Brasil e China ao tentarem se posicionar como mediadores em um conflito tão complexo e sensível como a guerra na Ucrânia.

A reação de Zelensky sugere que qualquer iniciativa de paz deverá considerar cuidadosamente a percepção e as expectativas de todas as partes envolvidas para ter chances de sucesso.