BC joga responsabilidade da inflação para governo, dizem economistas

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O Banco Central (BC) elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, a 11,25%, em linha com o que era esperado pelo mercado.

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O tom do comunicado da decisão desta quarta-feira (6) foi cauteloso, em linha — e praticamente idêntico — à comunicação da última reunião, em setembro.

Seguem entre os pontos de atenção do colegiado as incertezas no exterior, as expectativas desancoradas, o mercado de trabalho e demanda aquecidos, o câmbio depreciado e políticas econômicas externas e internas de impacto inflacionário.

Com alguns dos pontos reforçados, Álvaro Bandeira, coordenador da Comissão de Economia da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil (APIMEC Brasil), afirma que o BC foi absolutamente claro em “dar um comando” para o governo.

“Façam alguns ajustes fiscais, sigam o arcabouço fiscal na letra dele e com isso nós poderemos ter até uma taxa um pouco mais suavizada, mas muito mais para frente, porque a inflação continua acima da banda maior estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, o mercado de trabalho continua forte, o nível de atividade continua resiliente e tudo isso acaba batendo de volta na inflação”, elenca Bandeira.

Em tom semelhante ao do último comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou que “tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”, reforçando que as contas públicas estão no radar de suas preocupações.

Ainda assim, em relatório aos clientes da Warren Investimentos, o estrategista-chefe da casa, Sérgio Goldenstein, destaca haver uma ênfase ainda maior no comunicado quanto à percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal e seus efeitos, em particular sobre o prêmio de risco e a taxa de câmbio.

“O aumento do tom de desconforto do Copom centrou-se no cenário fiscal. Passou a apontar os efeitos relevantes da percepção dos agentes econômicos sobre os preços dos ativos e as expectativas, com destaque para o prêmio de risco e a taxa de câmbio”, escreveu Goldenstein.

“Assim, ao reafirmar a contribuição que uma política fiscal crível traria para a ancoragem das expectativas de inflação e redução dos prêmios de risco, acrescenta, em relação ao comunicado de setembro, a necessidade de apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal”, reiterou.

Porém, ao reafirmar o que foi comunicado na última reunião e unanimemente confirmar a profecia dos agentes econômicos, o Copom “joga na zona de conforto” e passa a bola sobre a inflação para o governo federal ao manter um “argumento que o mercado já comprou”, segundo Dato Netto, sócio da Tuesday Capital.

“Obviamente que o fiscal é um problema, mas é para além do horizonte relevante, é algo estrutural, de médio e longo prazo. Mas existe uma mistura entre o que o Banco Central tem que falar e fazer. É fundamental, institucionalmente, que ele traga o componente fiscal para mesa”, diz Netto.

“Porém, parte não desprezível da desancoragem está na forma de condução da política monetária, e para controlar isso a decisão acaba ficando excessivamente entregue ao consenso. A com essa discussão menos estrutural, quando transfere a responsabilidade, você vira passageiro no ‘barco do consenso””, conclui.

Em suas últimas reuniões, o BC tem evitado informar um guidance – a orientação definida de como vai manejar a política monetária no futuro. Segundo o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, o posicionamento não seria positivo uma vez que, devido às incertezas postas, o direcionamento poderia mudar, de modo a ser mais prejudicial do que não comunicá-lo.

“Vale notar que o comunicado deixou em aberto não apenas a extensão do ciclo de aperto, mas também o ritmo de ajuste, o que significa que o comitê está preparado para acelerar o passo novamente caso o cenário para a inflação continue se deteriorando”, conclui Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos.

Por conta dessa volatilidade, a última publicação do Boletim Focus, na segunda-feira (4), já apontava que a mediana do mercado apostava na alta de 0,5 ponto. Não obstante, avalia-se que a decisão não deve ter grande efeito sobre os negócios do dia seguinte.

“Em relação à abertura dos mercados amanhã, acredito que o comunicado não vai fazer grande preço porque já era amplamente aguardado pelo mercado. Acredito que um eventual anúncio de um pacote de gastos com mais detalhes pelo governo possa fazer um preço muito maior”, afirma Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital.

O cenário fiscal doméstico voltou ao centro do debate nos últimos dias com a expectativa de apresentação de um pacote e medidas para ajustes das contas pelo governo federal.

A apresentação era esperada para após o fim do segundo turno das eleições municipais, encerrado no dia 27 de outubro. A expectativa, porém, foi frustrada após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar que não havia previsão para a divulgação.

A frustração se converteu em disparada do dólar — que chegou ao maior patamar em mais de quatro anos — e críticas ao governo. Em resposta, o ministro da Fazenda cancelou uma série de agendas que teria na Europa nesta semana para focar nos debates fiscais. Agora, a expectativa é que as medidas sejam divulgadas ainda nesta semana.

Apesar de não ter informado um guidance, o Copom sinalizou que haverão “ajustes futuros”, sugerindo que ainda espera mais de uma alta nesse ciclo, segundo Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.

Porém, com o anúncio de medidas estruturais que enderecem a sustentabilidade do arcabouço fiscal no longo prazo, o alívio não deve se limitar ao mercado, mas se estender também ao colegiado.

“De fato, o cenário de incerteza pode evoluir tanto para uma melhora na expectativa de inflação, quanto para uma nova deterioração. Um pacote de medidas de ajuste fiscal mais robusto pode resultar em uma retomada, ainda que parcial, da credibilidade da política fiscal, reduzindo o prêmio de risco no câmbio, além de retirar pressão da demanda interna, o que resultaria em uma desaceleração mais rápida da inflação nos próximos meses”, afirma Vitória.

“Por outro lado, caso o gasto público tenha nova expansão em 2025, a inflação pode ter nova alta, tanto pela via de repasse cambial como pela demanda interna aquecida”, pondera.

Contudo, Dato Netto é crítico a essa postura mais dura agora sobre a pressão inflacionária dos gastos públicos, uma vez que essa seria uma discussão estrutural sobre um longo histórico do Executivo brasileiro.

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“A inflação está onde está porque, quando estamos com o nível de crescimento econômico e mercado de trabalho que temos, a inflação vai ser como está por aí. Ao trazer uma política monetária mais contracionista por conta do desarranjo fiscal, o Banco Central está afirmando categoricamente que não tem como trabalhar para entregar a inflação na meta, porque a realidade estrutural brasileira não está alinhada com ela”, argumenta o sócio da Tuesday Capital.

Netto aponta que uma taxa de juro real de 5% já deveria ser dura o suficiente para restringir a alta da inflação. Com a decisão de hoje, os juros descontados a inflação no país chegam a 8,08%.

“Desde a pandemia, o Banco Central passa um momento muito difícil de encontrar o alinhamento da política fiscal, que caiu muito rápido e teve de subir muito rapido também naquela época. Viemos de uma desfuncional Selic de 2% e perdeu-se essa percepção do que é juro neutro”, afirma o economista.

Ele reforça que é necessário endereçar a questão fiscal, mas que deve ser feito com desenvolvimento de concorrência, competitividade, tecnologia, da estrutura tributária de maneira eficiente.

Piora do cenário

A grande mudança de uma reunião para a outra foi a elevação da previsão de inflação no horizonte relevante – a margem de tempo que o BC considera para tomar suas decisões.

Na última reunião, a expectativa era de que o IPCA, a inflação oficial do país, fosse de 3,5% no 1º trimestre de 2026. Agora, o colegiado aponta alta de preços de 3,6% no 2º trimestre daquele ano.

“Chamou atenção a elevação da inflação no horizonte relevante. Mesmo com a Selic mais elevada, a projeção subiu, uma vez que outras variáveis importantes tiveram deterioração preocupante“, aponta Rodolfo Margato, economista da XP.

No dia 18 de setembro, data da última decisão do Copom, o dólar encerrou o pregão em R$ 5,46. Apesar do patamar elevado, a divisa norte-americana vinha em uma sequência de quedas desde o dia 11 e que seguiria até o final daquele mês.

Desde então, a cotação do dólar voltou a subir, chegando ao maior patamar desde a pandemia (R$ 5,87) na sexta-feira (1º). Além de fatores externos – como incertezas rondando as eleições dos Estados Unidos e o conflito no Oriente Médio -, o cenário doméstico, pautado pelo fiscal, foi um dos principais elementos na cabeça dos investidores.

Enquanto isso, a inflação no país também acelerou. O último informe do IBGE foi sobre o IPCA-15 de outubro, indicador tido como a prévia da inflação oficial do país. No mês, a alta dos preços chegou a 0,54%, acumulando variação de 4,47% nos últimos 12 meses, encostando no teto da meta.

Já em setembro, o resultado do indicador havia sido de 0,13% na comparação com agosto e de 4,12% no acumulado.

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